sexta-feira, 17 de abril de 2015

A Gens

Estou publicando trechos do Livro de Engels, a origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Fundamental para entendermos as instituições que dispomos hoje na nossa sociedade. É importante salientar que todas essas mudanças nas relações de poder ocorreram na humanidade num período muito curto de tempo, cerca de 3 mil anos. Curto, se considerarmos todo o período da aventura humana no nosso planeta. Boa leitura.

A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado

Friedrich Engels


IX - Barbárie e Civilização

capa
Pesquisaremos as condições econômicas gerais que na fase superior da barbárie minavam já a organização gentílica da sociedade, e acabaram por fazê-la desaparecer, com a entrada em cena da civilização. Para isso, O Capital de Marx vai nos ser tão necessário quanto o livro de Morgan.
Nascida a gens na fase média do estado selvagem, e desenvolvida na fase superior, ela alcançou seu apogeu, segundo nos permitem julgar os documentos de que dispomos, na fase inferior da barbárie. Por essa última, portanto, começaremos a nossa investigação.

Nela, onde os peles-vermelhas americanos vão-nos servir de exemplo, encontramos a constituição gentílica completamente desenvolvida. Uma tribo se divide em diversas gens, comumente em duas; com o aumento da população, cada uma das gens primitivas se subdivide em várias gens filhas, para as quais a gens-mãe persiste como fratria; a própria tribo se subdivide em várias tribos, em cada uma das quais, na maioria dos casos, vamos achar as antigas gens; uma confederação, pelo menos em certos casos, une as tribos aparentadas. Essa organização simples é inteiramente adequada às condições sociais que a engendraram.

Não é mais do que um agrupamento espontâneo, capaz de dirimir todos os conflitos que possam nascer no seio da sociedade a que corresponde. Os conflitos exteriores são resolvidos pela guerra, que pode resultar no aniquilamento da tribo, mas nunca em sua escravização. A grandeza do regime da gens — e também a sua limitação — é que nele não cabiam a dominação e a servidão.

Internamente, não existem diferenças, ainda, entre direitos e deveres; para o índio não existe o problema de saber se é um direito ou um dever tomar parte nos assuntos de interesse social, executar uma vingança de sangue ou aceitar uma compensação; tal problema lhe pareceria tão absurdo quanto a questão de saber se comer, dormir e casar é um dever ou um direito. Nem podia haver, na gens ou na tribo, divisão em diferentes classes sociais. E isso nos leva ao exame da base econômica dessa ordem de coisas.

Primeira Edição: Esta obra foi escrita por Engels, de março a junho de 1884. Foi publicada pela primeira vez em Zurique, no mesmo ano.
Tradução: A presente tradução, de autoria de Leandro Konder, foi feita da edição de 1953 em espanhol preparada pelo Instituto Marx-Engels-Lênin (atualmente Instituto da Marxismo-Leninismo, anexo ao CC do PCUS) e publicada por Ediciones en Lenguas Extranjeras, de Moscou. O texto do presente livro foi confrontado com o contido na edição alemã, Karl Marx und Friedrich Engels, Ausgewählte Schriften. Dietz Verlag, Berlim, 1961, em dois tomos, por Helga Hoffmann. As notas assinaladas com N. da R., são do então Instituto Marx-Engels-Lênin (hoje, Instituto de Marxismo-Leninismo). A capa desta edição brasileira foi realizada com o aproveitamento de O Casamento, de O Escudo de Aquiles, uma gravura anagliptográfica de Flaxman, publicada em Londres, em 1846, no Art Union Journal. É de Mauro Vinhas de Queiroz, assim como o diagrama do livro.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio de Janeiro, 1964.
Transcrição: Diego Grossi
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