A Inovação Esquecida: A Autoridade Ética como Alavanca da Transformação
Hoje, muito se fala em inovação. Em romper barreiras, em
criar soluções inéditas, em transformar realidades. Na gestão pública e nas
outras organizações, essa busca frequentemente se concentra em novas
tecnologias, processos ou modelos. No entanto, pode estar faltando olhar para
uma inovação mais profunda e fundamental: a inovação na própria forma de
liderar.
A filosofia de Paulo Freire, embora nascida na pedagogia,
oferece o insight fundamental para essa transformação. Seu conceito de "inédito
viável" – a percepção de que a realidade não é estática, mas um campo
de possibilidades a serem construídas, pode ser o combustível de qualquer
organização que queira, de fato, inovar. Mas como acessar esse potencial
coletivo? O caminho não passa por imposições verticais, mas por uma
revolução relacional: a adoção da autoridade ética.
O Poder que Paralisa a Inovação
Na gestão tradicional, ainda se confunde autoridade com
autoritarismo. O gestor que opera pelo medo, pela intimidação e pelo controle
acredita estar demonstrando força. Na verdade, está desnudando uma fraqueza
profunda e, pior, sufocando a inovação na fonte.
A necessidade de coagir revela a insegurança de quem não
consegue inspirar. Esse poder coercitivo pode até gerar obediência momentânea,
mas seu custo é altíssimo: ele destrói a criatividade, anula a motivação
intrínseca e dissolve a confiança. Em um ambiente assim, o "inédito
viável" não tem solo para germinar. As pessoas gastam energia se
protegendo, não arriscando ou criando.
A Força Silenciosa que Liberta o Novo
A verdadeira inovação organizacional nasce de um poder
atrativo, não coercitivo. É aí que a autoridade ética se revela como a alavanca
esquecida. Ela não precisa ser anunciada de forma intimidadora; mas percebida
na coerência, na competência e no cuidado.
Esta autoridade se constrói com vínculos de confiança,
não ameaças; com influência, não intimidação; com respeito mútuo, não
submissão.
O gestor ético entende que sua função principal não é
comandar, mas criar as condições dialógicas para que a inteligência
coletiva floresça. Ele facilita um processo onde a equipe:
- Reflete
criticamente sobre os desafios atuais.
- Age
de forma coletiva para transformá-los.
- Descobre,
em conjunto, o "inédito viável" – a inovação que era
possível, mas estava adormecida pela dinâmica do medo.
Práxis Organizacional: O Ciclo da Inovação Sustentada
Este é o coração da práxis aplicada à gestão: o
ciclo contínuo de Ação → Reflexão Crítica → Ação Transformada. O gestor
atua como um facilitador desse ciclo, valorizando o conhecimento tácito de cada
membro e garantindo que todas as vozes sejam ouvidas.
Aqui, a "cultura do silêncio" – onde as
pessoas não se sentem seguras para criticar ou sugerir – é o maior inimigo da
inovação. O gestor autoritário a perpetua. O gestor ético a quebra
sistematicamente através do diálogo, convertendo o medo em coragem para
propor o novo.
Conclusão: A Inovação Começa na Liderança
Portanto, antes de buscar inovar em produtos ou serviços,
talvez a pergunta essencial seja: nossa forma de liderar é inovadora?
O caminho para uma organização ágil e verdadeiramente
inovadora não passa pelo reforço do controle, mas pela coragem de adotar uma
autoridade que propõe, escuta e co-constrói. Esta é a inovação prévia, o
pré-requisito humano que possibilita todas as outras.
A força do líder inovador não se mede pelo volume de sua
voz, mas pela solidez dos vínculos que constrói e pela capacidade que ele
cultiva em sua equipe de enxergar e realizar, coletivamente, o futuro que
desejam criar.
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