quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

 A Inovação Esquecida: A Autoridade Ética como Alavanca da Transformação

Hoje, muito se fala em inovação. Em romper barreiras, em criar soluções inéditas, em transformar realidades. Na gestão pública e nas outras organizações, essa busca frequentemente se concentra em novas tecnologias, processos ou modelos. No entanto, pode estar faltando olhar para uma inovação mais profunda e fundamental: a inovação na própria forma de liderar.

A filosofia de Paulo Freire, embora nascida na pedagogia, oferece o insight fundamental para essa transformação. Seu conceito de "inédito viável" – a percepção de que a realidade não é estática, mas um campo de possibilidades a serem construídas, pode ser o combustível de qualquer organização que queira, de fato, inovar. Mas como acessar esse potencial coletivo? O caminho não passa por imposições verticais, mas por uma revolução relacional: a adoção da autoridade ética.

O Poder que Paralisa a Inovação

Na gestão tradicional, ainda se confunde autoridade com autoritarismo. O gestor que opera pelo medo, pela intimidação e pelo controle acredita estar demonstrando força. Na verdade, está desnudando uma fraqueza profunda e, pior, sufocando a inovação na fonte.

A necessidade de coagir revela a insegurança de quem não consegue inspirar. Esse poder coercitivo pode até gerar obediência momentânea, mas seu custo é altíssimo: ele destrói a criatividade, anula a motivação intrínseca e dissolve a confiança. Em um ambiente assim, o "inédito viável" não tem solo para germinar. As pessoas gastam energia se protegendo, não arriscando ou criando.

A Força Silenciosa que Liberta o Novo

A verdadeira inovação organizacional nasce de um poder atrativo, não coercitivo. É aí que a autoridade ética se revela como a alavanca esquecida. Ela não precisa ser anunciada de forma intimidadora; mas percebida na coerência, na competência e no cuidado.

Esta autoridade se constrói com vínculos de confiança, não ameaças; com influência, não intimidação; com respeito mútuo, não submissão.

O gestor ético entende que sua função principal não é comandar, mas criar as condições dialógicas para que a inteligência coletiva floresça. Ele facilita um processo onde a equipe:

  1. Reflete criticamente sobre os desafios atuais.
  2. Age de forma coletiva para transformá-los.
  3. Descobre, em conjunto, o "inédito viável" – a inovação que era possível, mas estava adormecida pela dinâmica do medo.

Práxis Organizacional: O Ciclo da Inovação Sustentada

Este é o coração da práxis aplicada à gestão: o ciclo contínuo de Ação → Reflexão Crítica → Ação Transformada. O gestor atua como um facilitador desse ciclo, valorizando o conhecimento tácito de cada membro e garantindo que todas as vozes sejam ouvidas.

Aqui, a "cultura do silêncio" – onde as pessoas não se sentem seguras para criticar ou sugerir – é o maior inimigo da inovação. O gestor autoritário a perpetua. O gestor ético a quebra sistematicamente através do diálogo, convertendo o medo em coragem para propor o novo.

Conclusão: A Inovação Começa na Liderança

Portanto, antes de buscar inovar em produtos ou serviços, talvez a pergunta essencial seja: nossa forma de liderar é inovadora?

O caminho para uma organização ágil e verdadeiramente inovadora não passa pelo reforço do controle, mas pela coragem de adotar uma autoridade que propõe, escuta e co-constrói. Esta é a inovação prévia, o pré-requisito humano que possibilita todas as outras.

A força do líder inovador não se mede pelo volume de sua voz, mas pela solidez dos vínculos que constrói e pela capacidade que ele cultiva em sua equipe de enxergar e realizar, coletivamente, o futuro que desejam criar.

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