sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Quem ganha e quem perde com a guerra às drogas


 
Um texto bastante lúcido de Maurício Moraes sobre a "guerra às drogas". Um assunto que deve ser dialogado com muita profundidade pela sociedade.
“A questão é que a droga existe, que todo dia alguém fuma uma pedra no centro de São Paulo ou cheira uma carreirinha em algum canto do Congresso Nacional. É um fato e precisamos lidar com isso. Por isso mesmo, qualquer política pública que não aceite a realidade estará, em algum momento, equivocada.
Felizmente, temos sopros de lucidez ao redor do mundo. Estados americanos como o Colorado e o vizinho Uruguai já legalizaram a maconha (parte importante do problema). O debate ganha fôlego na América Latina e até nos EUA, onde o presidente Barack Obama já admitiu que a Guerra às Drogas é um "fracasso total”.
Nessa guerra travada sobretudo nas periferias, o maior preço é pago por quem é tragado pelas prisões superlotadas. No Brasil, a coisa só piorou desde que o Sistema Nacional de Politicas sobre Drogas entrou em vigor em 2006. Acabamos de passar a Rússia e agora temos a terceira maior população carcerária do mundo (715 mil pessoas).
Nessa guerra, cor da pele, endereço e conta bancária contam. Uma coisa é um menino branco fumar na Avenida Paulista (vai provavelmente se safar como usuário). Outra é o menino preto fumando na periferia (grande chance de ir para a cadeia por tráfico). O enredo é corriqueiro — curso intensivo de marginalidade e estigma após sair da prisão. O saldo é sempre mais violência.
Além de tragar recursos públicos, a Guerra às Drogas funciona como um terrível mecanismo de controle social, de criminalização da pobreza. Para "proteger" nossas famílias dos vapores entorpecentes deste mundo, criamos um sistema sórdido de violência. O Estado faz de conta que vai acabar com as drogas. A sociedade finge que a cadeia é a solução para todos os males (enquanto uns poucos tantos enriquecem nesse ínterim).
Diante da mentira, a verdade é que precisamos falar sobre drogas e debater sua legalização e regulação. Até lá, seguiremos contando os mortos desse front.”
*Maurício Moraes é jornalista e foi candidato a Deputado Federal por São Paulo pelo PT.
 
 

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