quarta-feira, 23 de maio de 2012

Lenin certamente levou as teses de Engels (e de Marx) às últimas conseqüências. (Crítica da visão clássica) [1]

Por milhares subordinarem sua vontade à vontade de um. Lenin certamente levou as teses de Engels (e de Marx) às últimas conseqüências. Via nas comissões operárias sinais inequívocos de anarquismo ou sindicalismo, doutrinas que advogavam a abolição do Estado e a entrega da economia aos produtores livremente associados.

Lenin opunha-se às comissões operárias porque achava necessário organizar a economia em trustes, de acordo com o modelo das economias capitalistas mais adiantadas. Propunha, como etapa intermediária entre o estágio de então da Rússia e o socialismo, o capitalismo de Estado, ou seja, os meios de produção estatizados organizados de forma a captar as forças produtivas desenvolvidas pelo capitalismo.

“Enquanto a revolução na Alemanha ainda tarda, nossa tarefa é estudar o capitalismo de Estado dos alemães, não poupar qualquer esforço em copiá-lo e não hesitar na adoção de métodos ditatoriais para apressar a sua imitação. Nossa tarefa é fazer isso ainda mais sistematicamente do que Pedro, quando acelerou a cópia da cultura ocidental pela Rússia bárbara, e não podemos hesitar em usar métodos bárbaros na luta contra a barbárie”.

Contra essa concepção de socialismo se levantou a Oposição Operária, dentro do Partido Bolchevista. Eram principalmente sindicalistas, que criticavam a entrega da direção das empresas a antigos capitalistas ou a “especialistas”, treinados no regime anterior. A sua principal crítica era a burocratização das empresas e a alienação dos trabalhadores. Em suas teses para o X Congresso do partido, em 1921, a Oposição Operária diz:

“O sistema e os métodos da organização, que se apoiam numa pesada maquinaria burocrática, excluem qualquer iniciativa criadora, qualquer ação independente dos produtores organizados em sindicatos. Este sistema de política econômica, que é executado de modo burocrático, sobre as cabeças dos produtores organizados, por intermédio de funcionários nomeados e especialistas duvidosos, levou a um dualismo na direção da economia e provoca conflitos constantes entre os comitês de fábrica e as direções das empresas, entre os sindicatos e os organismos econômicos”.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

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