O relacionamento do poder monolítico com o planejamento geral não foi provavelmente causal (no sentido de que um fosse a causa do outro) mas havia forte afinidade entre ambos.
O monolitismo foi instaurado, nos numerosos países que adotaram o modelo soviético, por razões políticas, mas ele era certamente funcional para o planejamento geral.
Para aprofundar esta questão, cabe uma breve digressão sobre planejamento em geral. É da essência racional do homem “planejar”, isto é, projetar ao futuro sua existência, colocar para si, para sua comunidade doméstica, urbana e nacional objetivos desejáveis e preparar atividades para atingi-los.
Só em situações de extremo perigo ou privação deixa o homem de planejar seu futuro. Planejar a vida pessoal, comunitária, local, nacional etc. exige ter poder sobre certos recursos: sobre o próprio corpo, sobre o uso do tempo, sobre os meios básicos de sobrevivência.
Escravos podiam no máximo planejar sua fuga da condição de escravo. Homens livres, dotados de direitos de cidadania, usufruindo certa segurança social planejam muitos aspectos de suas vidas e participam da feitura e da implementação de planos nas esferas sociais em que atuam.
Planejar implica elaborar planos e implementá-los. Nesse duplo sentido, planejar pressupõe o exercício de poder. E esse poder tem de ser proporcional ao âmbito submetido ao plano. Quando nesse âmbito se encontra uma nação inteira, o planejador tem de dispor de grande poder político para poder coagir os outros a obedecer ao plano.
É difícil fugir dessa conclusão. Mesmo se toda população concorda com os objetivos do plano – combater uma epidemia, rechaçar um ataque inimigo, salvar uma floresta da destruição –, é quase certo que parte das pessoas discordará dos meios para atingi-los.
Isso vale inclusive se o planejamento for extremamente democrático: todos os envolvidos são ouvidos antes da elaboração do plano e as propostas são exaustivamente discutidas até que o plano seja adotado por unanimidade.
Isso não impede que durante sua execução uma parte das pessoas mude de opinião, deixe de concordar com o objetivo ou com os meios fixados pelo plano. Sendo grande a população e grande o período de duração do plano, esta contingência é quase inescapável. E, nesse caso, os que mudaram de opinião e não querem mais implementar o plano têm de se conformar, pois do contrário o farão fracassar.
Qualquer plano abrangente e que dure exige disciplina dos participantes. Os responsáveis pelo plano têm de poder exigir essa disciplina, impor aos que discordam que colaborem em sua realização.
[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.
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