quinta-feira, 31 de maio de 2012

As dificuldades na execução do planejamento centralizado transformaram a economia “socialista real” numa economia de escassez. (Crítica da visão clássica) [1]

Para realizar essas metas de crescimento, cada plano fixava-as no grau máximo para os diferentes setores da economia, em seguida eram desdobradas para as divisões territoriais e dentro destas para as empresas localizadas nelas.

A realização das metas exigia investimentos na ampliação da capacidade produtiva, o emprego de mais trabalhadores e o consumo de mais matérias-primas, combustível, materiais auxiliares etc.

Os diretores das empresas negociavam as metas com seus superiores, exigindo em troca do compromisso com elas os recursos que consideravam necessários.

Nesta negociação, os diretores não podiam errar porque, se aceitassem metas altas demais para a quantidade de mão-de-obra, materiais etc., que lhes eram alocados, corriam o risco de não poder cumpri-las e serem punidos.

Como sempre há ocorrências imprevistas, que podem afetar a empresa (um acidente, uma inundação, atraso no fornecimento etc.), o melhor que eles podiam fazer era pedir que as metas fossem reduzidas e que os recursos alocados cobrissem uma margem de segurança contra imprevistos.

Os planejadores de nível superior, sabendo disso, enfrentavam a pressão de seus subordinados exagerando as metas e limitando os recursos ao estritamente necessário.

No final, o acordo em geral embutia bastante investimento, expansão do emprego e ampliação do fornecimento de insumos para garantir a execução das metas. Havia nesse processo um viés por uso excessivo de bens de investimento, força de trabalho e materiais. Inclusive porque os projetos de investimento, para terem mais chances de ser aprovados, tendiam a subestimar os recursos e o tempo necessários para serem completados.

Quando o plano começava a ser implementado, a “fome por bens de investimento” passava a pressionar os demais setores. Como muitos desses bens eram importados, crescia além do planejado o gasto de divisas e, portanto, a necessidade de ganhá-las, o que levava a aumentar mais do que o previsto o volume de exportações. Tudo isso transformava a economia “socialista real” numa economia de escassez.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

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