É certamente uma visão poderosa e magistral, mas não responde a uma série de questões que hoje, um século depois, sabemos serem essenciais.
Primeiro: como a produção de mercadorias, causa da anarquia, é substituída pela organização conscientemente planejada? Ao que parece, Marx e Engels pensavam na generalização do planejamento interno da grande empresa capitalista a toda economia.
Se esse foi o caso, convém lembrar que o planejamento empresarial capitalista é inteiramente autoritário. Tudo se subordina à maximização da taxa de lucro, que é de interesse exclusivo do capital.
A execução do plano é imposta a todos os empregados pela gerência, escolhida e monitorada pelos representantes dos acionistas. Os interesses dos consumidores e empregados são desconsiderados ou, na melhor hipótese, só são considerados como meios para maximizar a taxa de lucros.
Segundo: se a socialização dos meios de produção, em si, abole as classes sociais, como passam a ser organizados a produção, a distribuição e o consumo?
Se tomamos a sério que a luta pela existência individual cessa, então devemos supor que os produtos serão apropriados livremente por todos que desejam tê-los, o que implica uma produtividade infinita do trabalho, do capital e da natureza diante de uma gama finita de necessidades sociais e individuais.
Ao que parece, Engels tinha algo assim em mente, ao dizer:
“A apropriação social da produção elimina não só os atuais entraves artificiais da produção, mas também a destruição e o desperdício positivos de forças produtivas e produtos, que hoje são os acompanhantes inevitáveis da produção e que alcançam o seu máximo nas crises.”
“Além disso, ela libera uma massa de meios de produção e de produtos à coletividade pela eliminação do luxo imbecil das atuais classes dominantes e de seus representantes políticos.”
“A possibilidade de assegurar a todos os membros da sociedade, mediante a produção social, não apenas uma existência material plenamente satisfatória e que se torna dia a dia mais rica, mas que lhe garante a formação e o exercício inteiramente livres de suas faculdades físicas e espirituais, esta possibilidade existe pela primeira vez, mas ela existe.”
[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.
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