No fim do século XVII, tecidos de algodão importados da Índia tornaram−se moda na Inglaterra, a ponto de ameaçar o monopólio dos produtores e mercadores de lá. Uma descrição sardônica devida a Defoe (1708, citada por Mantoux, 1927, p. 199) cabe: "Vimos nossa elite vestida de carpetes indianos que, poucos anos antes, suas criadas teriam rejeitado como sendo ordinárias demais; oschintzes foram elevados dos assoalhos para suas costas, do chinelo á saia e mesmo a Rainha, naquela época, comprazia−se em aparecer em China e Japão, quero dizer, sedas chinesas e calicós. E isso não era tudo, mas arrastou−se às nossas casas, nossos guarda−roupas e dormitórios; cortinas, travesseiros, cadeiras e, por fim, as próprias camas nada mais eram que calicós ou coisas da Índia".
Como era típico da época, levantou−se uma tempestade de protestos por parte do comércio e manufatura de lã, que conseguiu que o parlamento aprovasse, em 1700, uma lei proibindo a importação de tecidos estampados da índia, China e Pérsia. Mas, a proibição legal foi superada pelo interesse econômico e a importação de tecidos de algodão continuou, o mesmo acontecendo com os protestos dos interesses feridos.
"E eles não se limitaram a palavras. Conflitos irromperam em vários lugares. Tecelões, exasperados por contínuo desemprego, começaram a atacar, nas ruas, pessoas vestindo algodão, rasgando e queimando suas roupas. Mesmo casas eram arrombadas e saqueadas" (Mantoux, 1927, p. 200).
Nova lei foi passada, em 1721, ampliando a proibição à compra e venda e ao uso e à posse de tecidos de algodão por parte dos residentes na Inglaterra, sob pena de multas de 5 libras para pessoas físicas e 20 libras para mercadores.
O caso é emblemático da hegemonia dos produtores sobre os consumidores. Os primeiros estavam organizados e tinham a seu favor os valores tradicionais, de defesa dos interesses estabelecidos.
Os últimos, embora pertencentes à elite, só tinham a seu favor os importadores e comerciantes que os supriam. A vitória da manufatura lanígera mostra o poderio do que, na época, constituía o mais importante conjunto de interesses econômicos do país.
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