A anarquia decorre do fato de que os planos privados dos competidores são mantidos em segredo uns dos outros, o que impede sua coordenação prévia.
O importante aqui é o “prévio”. Uma vez em ação, o mercado impõe a compatibilização dos planos privados, pela força, eliminando alguns e premiando outros.
Cada competidor faz o seu lance, no escuro, sem conhecer previamente os dos outros, portanto sem poder se ajustar a eles.
Os maiores partidários do mercado são os economistas neoclássicos, que imaginam o mercado perfeito, em que os participantes têm por pressuposição todas as informações necessárias para agir racionalmente.
Leon Walras concebeu um mercado não-anárquico, em que o tempo real é substituído pelo tempo lógico, no qual todas as decisões são reversíveis.
O mercado de Walras é dirigido por um leiloeiro, que recebe previamente todos os lances – ofertas e demandas – dos agentes, os estuda e os devolve a seus autores, indicando-lhes em que direção devem modificá-los para se ajustar aos outros.
Os lances são feitos e devolvidos tantas vezes quantas forem necessárias para sua completa compatibilização. Aí o leiloeiro abre o mercado e tudo o que é ofertado é vendido e tudo o que é demandado é comprado.
O constructo de Walras mostra como é primitivo e falível o mercado realmente existente, com seu tempo real e sem leiloeiro. Funcionando normalmente, o mercado destrói milhares de projetos, não endossados pelos outros agentes.
Como o mercado na maior parte do tempo funciona “anormalmente”, impulsionado por ondas de otimismo ou abalado por pânico, seguido de letargia, o volume de projetos expandidos na alta e liquidados na baixa é muito maior.
[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.
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