domingo, 10 de junho de 2012

O mercado capitalista tratou de enquadrar o tempo pela esfera financeira. A cada momento, o mercado decide o futuro de firmas, famílias e governos. (Crítica da visão clássica) [1].

Em lugar do leiloeiro mítico, o mercado capitalista tratou de enquadrar o tempo pela esfera financeira. A cada momento, o mercado decide o futuro de firmas, famílias e governos.

Só têm futuro econômico aqueles que conseguem vender. Agora, o futuro é separado do presente e toma a forma de ativos financeiros, que são em geral títulos de crédito, públicos ou privados, ou ações de sociedades anônimas.

Estes são transacionados em leilões diários, de modo que suas cotações refletem – ou se crê que refletem – o grau de apoio que têm do “público”.

O mercado financeiro imita parcialmente o mercado não-anárquico de Walras, pois os agentes não se dividem em compradores e vendedores, podendo a cada momento ser uma coisa ou outra. Essa completa reversibilidade dos papéis permite ao agente corrigir sua posição (2) de acordo com os indicadores que o mercado vai produzindo a cada momento.

Os contratos negociados nos mercados financeiros sempre se projetam no tempo, pois seu valor decorre da renda futura que sua posse permite auferir.

Se alguém compra um automóvel Volkswagen, está dando um endosso ao plano dessa firma, embora sua intenção seja meramente possuir um veículo.

A participação de cada firma nas vendas totais de carros indica o grau de aceitação de seu produto e, portanto, a maior ou menor viabilidade de seu plano de produção, acumulação de capital, desenvolvimento de novos processos e produtos etc.

Mas este mesmo dado é produzido com maior freqüência pela cotação das ações da Volkswagen nas Bolsas de Valores. Todos os dias o pregão da Bolsa permite acompanhar, hora a hora, como o “público” avalia não o produto da empresa mas a própria empresa. Isso indica em tempo real, a cada momento, o futuro possível do plano dessa firma, em comparação com o das demais.

2. Infelizmente, corrigir não equivale a revogar. Quando há reviravolta no mercado, a maioria dos agentes que não a previu sofre perdas pesadas. Definitivamente, o mercado financeiro é uma aproximação muito pobre e imperfeita do mercado sonhado pelos neoclássicos.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário