terça-feira, 5 de junho de 2012

O sacrifício dos que ganhavam melhor decorria de um esforço imenso para acelerar o crescimento, que com o passar do tempo passou a dar resultados cada vez menores.. (Crítica da visão clássica) [1].

O sacrifício dos que ganhavam melhor não decorria de uma melhor distribuição de renda, em que eram poucos os pobres e excluídos. Ele decorria de um esforço imenso para acelerar o crescimento, que com o passar do tempo passou a dar resultados cada vez menores.

Faltavam as punições financeiras aos que tomavam decisões erradas de investimento, que no mercado capitalista são muito severas. E que nas empresas estatais dos países capitalistas também ficam impunes.

O relato de Kornai a respeito é muito expressivo: “Tomados em conjunto, os projetos de investimento aprovados oficialmente requerem mais insumos do que os fisicamente disponíveis. [...] A reação se dá no quadro do controle burocrático direto na maioria dos casos: as organizações mais altas intervêm, tomando decisões de improviso sobre quem deve receber o produto ou recurso no momento em falta e quem deve ficar sem.

Normalmente, nenhum projeto em andamento é paralisado completamente, inclusive porque cada um tem advogados poderosos na burocracia. Em vez disso, interrupções fazem com que certo número de diferentes projetos se desacelerem simultaneamente. Essa prática leva à dissipação do investimento, ao prolongamento severo do tempo de aprovação e de conclusão e a um grande aumento dos custos”.

E, numa nota de rodapé, Kornai acrescenta: “O processo de obter permissão leva tanto tempo que quando a decisão é tomada o projeto está obsoleto. Na União Soviética, nos anos 80, 25% dos projetos haviam sido feitos entre dez e 20 anos antes. [...] Uma comparação de projetos de investimento num certo número de indústrias mostra que, nos anos 60, levava de duas a cinco vezes mais tempo completar um projeto na Hungria do que no Japão”.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

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