segunda-feira, 11 de junho de 2012

No “socialismo real” a direção do plano trata de arbitrar as demandas dos serviços públicos e as necessidades dos consumidores. Isso é feito politicamente, num processo não aberto, do qual o povo está ausente. (Crítica da visão clássica) [1].

No capitalismo atual, o mercado financeiro cumpre o papel que no “socialismo real” cabe à onipotente direção do plano. Como se viu na seção anterior, ela intervém na execução do plano sempre que a “fome de investimentos” ultrapassa a disponibilidade de produtos, condição quase permanente na economia da escassez.

Ela trata de arbitrar entre as demandas das firmas investidoras, as exigências do balanço de pagamentos, as demandas dos serviços públicos e as necessidades dos consumidores. Isso é feito politicamente, num processo não aberto, do qual o povo está ausente.

De acordo com Kornai, essa arbitragem é feita de forma não planejada, caso a caso, de improviso, repartindo a escassez e tornando “anárquica” a execução do plano.

É muito provável que, nos países capitalistas, os projetos de inversão tenham as mesmas características dos que são submetidos à direção do plano no “socialismo real”, isto é, que os recursos a serem absorvidos e o tempo gasto em sua implementação estejam severamente subestimados.

Há muito material anedótico que reforça esta hipótese. Mas, no capitalismo, os planos de investimento não são submetidos a um poder central mas ao mercado financeiro, nas pessoas dos administradores de fundos alheios: diretores de bancos, de fundos de investimento, de pensão etc.
São eles que vão arbitrar entre as firmas competidoras por financiamento, disputado também pelos governos e pelas famílias(pois dívidas públicas e de consumidores também assumem a forma de títulos negociáveis).


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

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