segunda-feira, 30 de julho de 2012

O socialismo sem aspas terá de ser construído pela livre iniciativa dos trabalhadores (Uma Utopia Militante - Repensando o Socialismo - Paul Singer)

Este livro surgiu da preocupação de reconceituar a revolução social socialista e de reavaliar suas perspectivas e possibilidades, face às vicissitudes do capitalismo e do movimento operário nos anos finais do século e do milênio.
         A preocupação se origina do fracasso histórico da tentativa de alcançar − ou "construir" − o socialismo através da estatização dos meios de produção e da instituição do planejamento centralizado da economia.
         A experiência fracassada revitalizou a hipótese de que o socialismo, enquanto modo de produção, teria de ser desenvolvido ainda sob hegemonia do capitalismo, ou seja, como um modo de produção subordinado, integrando a formação social capitalista
O fracasso do "socialismo realmente existente" revelou que o socialismo sem aspas terá de ser construído pela livre iniciativa dos trabalhadores em competição e contraposição ao modo de produção capitalista dentro da mesma formação social.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Deve fazer parte do nosso horizonte a tentativa de descobrir formas de organização social, formas de descentralização econômicas distintas do mercado. [1]

         Estou convencido de que deve fazer parte do nosso horizonte a tentativa de descobrir formas de organização social, formas de descentralização econômicas distintas do mercado, pelo menos entendendo o mercado como o que ele realmente é.

         E nisto quero discordar da intervenção do senador Suplicy. Não é correto dizer que não podemos ser contra o mercado, porque o mercado é simplesmente uma maneira de as pessoas conversarem.

         De forma alguma! É justamente porque sou favorável a que as pessoas realmente conversem umas com as outras, para decidir o que lhes diz respeito, que vejo o mercado de maneira muito negativa.

         O mercado é uma maneira de as pessoas se relacionarem de forma impessoal. Se se quiser dizer que a relação que se estabelece por intermédio do mercado é uma forma de conversar, vá lá, mas é preciso deixar claro que é uma forma muitíssimo restrita de conversar.

         No mercado, o trabalhador que procura emprego não pode dizer que tem dez filhos, que sua família está passando fome, que precisa disto e daquilo. Só pode dizer qual é sua capacidade de trabalho, que é o que tem para vender.

         Se chegarmos em uma situação em que as pessoas que se encontrarem para tratar de questões econômicas realmente conversem, discutam o que precisam, perguntem pela família do outro etc., isto não poderá ser chamado de mercado.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

Vitórias eleitorais de candidaturas de esquerda abrem possibilidades de multiplicar formas de democracia participativa. [1]


Em suma, a luta pelo socialismo hoje se trava em diversas frentes: na política, em que vitórias eleitorais de candidaturas de esquerda abrem possibilidades de multiplicar formas de democracia participativa, como, por exemplo, o Orçamento Participativo; na econômica, em que a consolidação de setores cooperativos de produção e de consumo contribui para a eliminação da pobreza e o combate ao desemprego; e na frente social, mediante a instituição de programas de bolsa-escola, renda-cidadã e análogos.

Certamente, o Orçamento Participativo é um “implante socialista” importante. Como defendi antes, creio que é útil adotar este conceito e incluir nele todas as experiências que já são realidade hoje e que vão na direção de ampliar as condições de a população poder decidir sobre suas condições de vida.

Embora o Orçamento Participativo diga respeito a uma pequena parcela do orçamento municipal, é algo fundamental.

Também concordo que, para tentar conseguir hegemonia política em uma sociedade como a nossa, o PT tem de colocar em prática coisas que melhorem as condições de vida da população.

Por isso, é bastante útil chamar a atenção para várias iniciativas que já vem sendo feitas a partir das administrações estaduais ou municipais do PT. Acho, como disse antes, que devemos desenvolver uma concepção de luta pelo socialismo que incorpore ao máximo essas iniciativas.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

As cooperativas do MST são essenciais para manter unidos os pequenos agricultores e possibilitar sua sobrevivência e progresso em direção a uma produção agroindustrial tecnicamente avançada e competitiva. [1]

         O MST está criando cooperativas agrícolas de diferentes tipos nos assentamentos de reforma agrária sob sua influência. Essas cooperativas são essenciais para manter unidos os pequenos agricultores e possibilitar sua sobrevivência e progresso em direção a uma produção agroindustrial tecnicamente avançada e competitiva.

         O MST, ao lado da Anteag e da ADS, luta contra a resistência do Banco Central às cooperativas de crédito. Ao que parece, o Banco Central defende o monopólio dos bancos da prestação de serviços financeiros às pessoas físicas. Neste caso, a luta pela implantação de formas socialistas de organização da produção no Brasil passa pelo plano político.



[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A constituição de cooperativas e outras formas associativas de produção é uma das mais importantes modalidades de luta pelo socialismo. [1]

         A luta contra a pobreza e o desemprego mediante a constituição de cooperativas e outras formas associativas de produção, que põem em prática os princípios do cooperativismo – participação por igual na propriedade da empresa, um voto por cabeça, exercício democrático de controle etc. – é uma das mais importantes modalidades de luta pelo socialismo a partir da contradição central do capitalismo: a de marginalizar grande parte dos trabalhadores da produção social.

         O governo de Olivio Dutra contratou a Anteag (Associação Nacional de Trabalhadores de Empresas de Autogestão e de Participação Acionária) para ajudar trabalhadores de empresas falidas ou em via de falência a se apoderar do patrimônio produtivo e passar a operá-lo de forma autogestionária.

         Em poucos meses, dezenas de novas cooperativas de produção foram formadas. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) criou a Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), que está dando apoio a sindicatos que se engajam nesta luta.

         Um dos principais projetos da ADS é criar uma rede nacional de crédito cooperativo, formada por grande número de cooperativas de crédito, que criarão um grande banco cooperativo, capaz de financiar a capitalização de inúmeras cooperativas de produção.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A luta pelo socialismo tem que ser travada no presente, dentro do capitalismo. [1]

         A luta pelo socialismo tem que ser travada no presente, dentro do capitalismo, e não ser adiada para um futuro hipotético “depois da tomada do poder”.

         Esta luta já está sendo travada, embora seu objetivo socialista nem sempre seja consciente. É o caso, por exemplo, da renda mínima ou bolsa-escola, uma instituição que temos conquistado já em dezenas de municípios.

         Do ponto de vista capitalista, não tem sentido transferir parte da receita fiscal para pessoas que não trabalham ou que não ganham o suficiente para sustentar os filhos.

         Para os capitalistas, isso estimula trabalhadores a se furtar a vender sua força de trabalho no mercado.

         Para socialistas, é assegurar direitos humanos, o de ter um padrão de vida mínimo decente, inclusive o direito à instrução para as crianças.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

A elite brasileira tem depositado cerca de 1 trilhão de reais em paraísos fiscais

          Os super-ricos brasileiros depositaram até 2010 cerca de US$ 520 bilhões (ou mais de R$ 1 trilhão) em paraísos fiscais.

          Os valores são depositados nas chamadas contas offshore sobre as quais as autoridades tributárias dos países não têm como cobrar impostos.

          Trata-se da quarta maior quantia do mundo depositada nesta modalidade de conta bancária.

          Esta mesma elite defende, cinicamente, a redução da carga tributária. A carga tributária no Brasil é alta em virtude da sonegação.

Numa economia socialista todos são ao mesmo tempo produtores e consumidores. [1]

         É importante lembrar que na economia socialista todos são ao mesmo tempo produtores e consumidores e, portanto, interessados em exercer controle numa condição e noutra.

         Poderia haver planejamento da produção no âmbito de cada cooperativa de consumo e deveria haver liberdade de as pessoas se associarem e se desassociarem dessas cooperativas, com as restrições inevitáveis para que a movimentação para dentro e para fora não perturbasse o funcionamento dos planos.

         Deveria ser livre a formação de novas cooperativas de consumo.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

A participação dos consumidores na organização da produção. [1]

         É preciso que os consumidores participem do controle, sobretudo se quisermos abrir mão dos mercados. Na economia de mercado – capitalista ou não – os interesses dos consumidores são sustentados pela concorrência entre os produtores, pela possibilidade de cada consumidor escolher de quem deseja comprar.

         Para que isso funcione é preciso que haja certa superprodução, ou seja, que a oferta de bens e serviços seja sempre maior do que a demanda. O que impõe certa margem de desperdício, já que o excesso de produção não é aproveitado.

         Se a demanda fosse maior que a oferta de produtos, o interesse dos produtores prevaleceria, o que levaria novamente a uma “economia de escassez”.

         Uma alternativa seria organizar grandes cooperativas de consumo que, a partir das necessidades, desejos, anseios e preferências de seus sócios, criariam cooperativas de produção. O capital destas últimas seria investido, uma metade por seus membros, a outra metade pela cooperativa de consumo.

         Dessa maneira, a direção das cooperativas de produção seria partilhada por seus trabalhadores e seus clientes. O que poderia conciliar os interesses contraditórios de vendedores e compradores dos produtos.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

Senhoras e Senhores Dirigentes Escolares

         O Comitê de Educação, uma parceria conjunta da Secretaria da Educação do Estado da Bahia/SEC e a Associação Baiana para Gestão Competitiva/ABGC, promove, o "Telesseminário de Boas Práticas da Gestão Escolar", com a apresentação de práticas selecionadas pelo referido Comitê, tendo como objetivo reconhecer e divulgar experiências de sucesso que possam ser aproveitadas em outras instituições de ensino.

         Os eventos são transmitidos para todo o Estado da Bahia por meio do sistema de videoconferência da SEC, a partir de Salvador, no Instituto Anísio Teixeira para mais de 30 auditórios espalhados pelo interior baiano.

         Em novembro de 2012, acontecerá o "4º Telesseminário de Boas Práticas da Gestão Escolar", os gestores escolares interessados em participar poderão inscrever sua experiências envolvendo práticas implantadas em suas escolas, valorizando desta forma, as instituições de ensino que apresentam interesse especial pela melhoria da qualidade da gestão escolar.

         Não percam a oportunidade de compartilhar suas experiências exitosas com profissionais da educação baiana. Veja o regulamento, preencha o formulário com a descrição do seu case e envie para o e-mail: inscricaotelesseminario@sec.ba.gov.br. Acesse também http://www.fieb.org.br/abgc/

Observar e absorver

          Este é o nome do Blog de Eduardo Marinho, um ser humano iluminado e com grande força espiritual. Não deixem de assistir a palestra que ele faz em um encontro sobre educação em Canoas, imperdivel.

Como eu pareço com esse cara! Sempre fui uma pessoa contestadora, nunca me senti bem convivendo com a competição. Minha intuição sempre se sentiu melhor com relações de cooperação e de solidariedade.



sexta-feira, 20 de julho de 2012

Socializar tem que necessariamente significar descentralizar o poder (Planejamento e mercado). [1]

         O planejamento centralizado, que foi a marca registrada do “socialismo” soviético, nada tem a ver com a socialização dos meios de produção. Se todos eles pertencem ao Estado, em tese cada cidadão é proprietário de meios de produção.

         Mas isso não passa de uma ficção jurídica. Na prática, o controle sobre a economia era exercido pela cúpula do partido, que também era a cúpula do Estado. E os trabalhadores continuaram tão subordinados quanto no capitalismo.

         A experiência do socialismo “realmente existente” constitui uma grande lição histórica, que nos ensina que socializar tem que necessariamente significar descentralizar o poder, ou seja, o controle dos meios de produção tem que ser exercido diretamente pelos trabalhadores sobre cada unidade produtiva.



[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

Não há socialismo sem a socialização dos meios de produção. [1]

No seminário anterior, “Socialismo no ano 2000: uma visão panorâmica”, Marilena Chaui lembrou que não há socialismo sem a socialização dos meios de produção.

Penso que esta é a questão central. Os clássicos definiam a economia socialista como constituída “pela livre associação dos produtores”, o que implica o fim de toda e qualquer subordinação dos trabalhadores.

Se formos levar isso a sério, parece-me evidente que “socializar os meios de produção” não poderá ser submetê-los a uma vontade única, a um plano concebido e implementado a partir de um único centro de poder.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O Brasil é um país que não realizou até hoje a democracia republicana (José Genoíno). [1]

Prefiro trabalhar com a idéia de que há uma luta contínua e que essa luta se dá no plano da conquista política e no plano da hegemonia. O problema da hegemonia não é só na política. Assume também a questão das formas variadas de propriedade, e até das formas diferenciadas de meios de produção.

Se nós compreendemos que estes valores sinalizam para uma luta permanente e que essa luta é sempre por mais direitos; e que essa luta por mais direitos leva a um choque com o capitalismo e ela é anticapitalista, esse conceito de hegemonia na economia é fundamental para que estejamos atentos a estas formas diferenciadas de meios de produção e de propriedade privada.

Esta é a contribuição que eu gostaria de apresentar aqui para deixar bem claro que certas bandeiras são realmente democráticas, num país que não realizou até hoje a democracia republicana, apesar de viver numa república.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.
 

Discutir a questão do socialismo como conjunto de valores, como democratização da economia, do mercado, da propriedade (José Genoíno). [1]

Quais as formas que essa democratização da renda, do capital, da terra, da riqueza, assumirá? É interessante a exposição de Paul Singer: a luta por certos valores é uma luta que se equilibra num processo de construção que não tem um fim, que não tem um modelo perfeito de sociedade.

Quando discutimos a questão do socialismo nesse patamar, como conjunto de valores, como democratização da economia, do mercado, da propriedade, eu acho interessante.

Mas nós compreendemos – e isso é necessário até porque estamos aqui diante de um público acadêmico – que o marxismo se realiza na prática, ouve uma experiência prática de socialismo e essa experiência apresentava o socialismo como um meio de transição para uma sociedade de abundância e de seres perfeitos.

Essa questão nós temos que discutir, porque ela é o nó que amarra a questão do planejamento centralizado, feito por um Estado e por um partido. Porque foi essa a experiência realizada e, inclusive, escrita por Marx e Engels, mas também com toda a clareza por Lenin.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

Se não enfrentamos o problema da renda e da propriedade, não estamos viabilizando o pensamento democrático radical (José Genoíno). [1]

O professor Antonio Candido já disse várias vezes que o Brasil necessita de uma corrente política radical. Concordo com isso, e acrescentaria: radical do ponto de vista da democracia e do social. É por aí que temos de começar esse debate.

Porque algumas coisas que foram abordadas aqui, algumas bandeiras identificadas com o socialismo, são bandeiras que precisamos radicalizar, como, por exemplo, o Orçamento Participativo, que é uma experiência de democracia direta.

Qual o problema central, na minha visão? É que dentro de um programa anticapitalista, se não enfrentamos o problema da renda e da propriedade, não estamos viabilizando o pensamento democrático radical, principalmente nas condições concretas do Brasil.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Muitas vezes somos induzidos a pensar que somente o Estado pode fazer as coisas (Luiz Inácio Lula da Silva). [1]

A União Soviética durou 70 anos e quando se perguntava para alguém, ele dizia: “O socialismo é um processo”. Um processo que durou 70 anos. Cuba, você vai lá e pergunta: mas quando vai melhorar? Eles dizem: “Isso é um processo”. Um processo que está lá há 40 anos! Nós não vamos demorar 40 anos para chegar ao poder.

A minha opinião é que chegaremos antes. Mas o que podemos então fazer de prático? Como ação de governo e como ação de partido? Eu penso que o PT pode fazer infinitamente muito mais do que faz.

Isso seria possível se, primeiro, nos preocupássemos menos com a disputa e o debate internos, e se nos preocupássemos em ter uma prática diferente da que os outros têm.

Segundo, muitas vezes somos induzidos a pensar que somente o Estado pode fazer as coisas e que a sociedade não pode fazer nada.

Eu penso que o PT precisa urgentemente mudar de comportamento, para tentar atender a esta expectativa que a sociedade tem a nosso respeito, que não é apenas eleitoral. Ela é moral, é ética e também é, do ponto de vista social, muito maior do que em relação a qualquer outro partido político.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

Será que o PT poderia conduzir a sociedade a sentir que há outro jeito de se fazer as coisas? (Luiz Inácio Lula da Silva). [1]

O que podemos colocar em prática nas nossas prefeituras, na nossa ação cotidiana, para que se vá criando uma cultura de que alguma coisa diferente pode ser feita?

Vou dar alguns exemplos que podem parecer banais, mas acho que os exemplos falam mais forte que os discursos. Quantos médicos tem o PT? Quantos dentistas tem o PT? Quantos advogados tem o PT? Quantos engenheiros tem o PT?

Imagine se toda essa gente se dotasse de espírito de solidariedade e resolvesse fazer coisas que o Estado não consegue fazer ou não quer fazer, como medicina preventiva, odontologia preventiva, defender a população na Justiça.

Será que o PT, com essa vontade que tem de induzir a sociedade a ter uma compreensão socialista, não deveria, ele, o partido, colocar em prática ações que podem conduzir a sociedade a sentir que há outro jeito de se fazer as coisas? Ou será que vamos ficar esperando que mude o Estado, que o Estado seja o dos nossos sonhos, que ele faça tudo?


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

Como partido político, muitas vezes deixamos de fazer o que deveríamos (Luiz Inácio Lula da Silva). [1]

Esse é um exemplo. Como partido político, muitas vezes deixamos de fazer o que deveríamos fazer para discutir o que não deveríamos discutir.

O velho Partido Comunista Italiano, no começo, fazia o seguinte: tinha uma vila, um bairro qualquer onde se precisava fazer uma ponte; o PCI muitas vezes fazia a ponte com o dinheiro arrecadado pelos trabalhadores e depois que estava pronta a ponte ia brigar para que o poder público pagasse aquilo lá.

No PT falta um pouco disso. Não é só fazer a ponte. Mas muitas vezes nós adotamos uma cultura que está estabelecida e disseminada na cabeça da sociedade, que é esperar que o Estado faça tudo. Se o Estado
não faz, ninguém faz. E se ninguém faz, ninguém tem nada.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Discutir como aplicar e definir prioridades é muita coisa para o nosso país (Luiz Inácio Lula da Silva). [1]

A partir de tudo que foi dito, quero fazer uma pergunta: o PT, como partido político, não poderia colocar em prática algumas coisas que estão ao seu alcance? Nas suas prefeituras? Por exemplo, Orçamento Participativo não é pouca coisa.

É a primeira oportunidade que o povo brasileiro tem de discutir como é gasto o dinheiro público, mesmo que seja apenas uma parte do dinheiro que a cidade arrecada.

Mas discutir como aplicar e definir prioridades é muita coisa para o nosso país, que tem uma elite que não foi capaz de permitir um ato público com 3 mil índios em Porto Seguro. Os índios inquietaram tanto, que eles colocaram três policiais para cada índio.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

Compatibilizar o mercado com um Estado regulador (Luiz Inácio Lula da Silva). [1]

Acho que o Paul Singer exagerou na questão da valorização do mercado, porque o mercado só funciona se houver um Estado muito forte regulando esse mercado e o obrigando a cumprir algumas cláusulas sociais.

Só o mercado não resolve. Compatibilizar o mercado com um Estado
regulador, capaz de garantir que o mercado atenda a todas as necessidades das pessoas, seria o ideal.

Como fazer isso é o desafio que está colocado para o PT. Somos um partido político. Um partido político tem que se apresentar para a sociedade
não apenas com capacidade de debate teórico, mas como um partido político que na sua prática cotidiana transmita exemplos de coisas novas que podem ser colocadas em prática.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sem democracia e sem liberdade não há socialismo (Luiz Inácio Lula da Silva). [1]

O ser humano é eminentemente competitivo. Na medida em que se bloqueia a capacidade competitiva do ser humano e se coloca todos para ganhar a mesma coisa dentro de uma fábrica, cortam-se as possibilidades de sucesso daquela fábrica.

As pessoas são niveladas por baixo e não niveladas por cima. O socialismo não conseguiu resolver este problema. Sou amante da Revolução Cubana. Acho que no PT quase todo mundo é. Agora, eles não resolveram o problema crucial da democracia e de algumas liberdades sem as quais não há socialismo.

Sou o maior entregador de medalha para operário cubano. Toda vez que vou lá eu sou convidado para um ato da Central dos Trabalhadores Cubanos. Tem trabalhador com umas 30 medalhas no peito. Aquilo é prêmio de produção. Se fosse alguma melhoria na qualidade de vida dele, ele ficaria mais agradecido.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

A economia socialista é uma questão polêmica (Luiz Inácio Lula da Silva). [1]

Uma coisa boa no nosso partido é exatamente podermos discutir este tema com a tranquilidade com que o estamos discutindo. Às vezes, no PT, todos nos dotamos de sabedoria infinita e passamos a não ter ouvidos para escutar coisas com as quais não concordamos.

Se não concordamos, ou o cidadão é esquerdista ou o cidadão é direitista, não tem meio termo para discutir. E a tranqüilidade com que estes debates estão sendo feitos, mesmo dentro do espaço do PT, mostra um amadurecimento do partido.

É muito importante que estejamos discutindo a economia socialista, pois é uma questão polêmica. Eu acho que o socialismo real – estamos falando aqui do real e não da utopia – não resolveu um problema crucial na sua relação com a sociedade, com a produção, que é o modo de tratar os desiguais.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

Tentar botar a imaginação socialista para funcionar (Fernando Haddad). [1]

O maior problema das cooperativas é a escala, o fato de ela ser uma graminha no meio de uma selva.

Nós temos de romper com preconceitos, romper com dogmas do passado, inclusive com teorias que às vezes são muito sedutoras mas que são velhas teorias, inclusive com teorias anti-socialistas, que também estão velhas.

Não nos vale nada resgatar essas teorias. Temos de ir para a frente, à luz do que aconteceu, e tentar botar a imaginação socialista para funcionar.



[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Os meios de comunicação e a propriedade intelectual (Fernando Haddad). [1]

Uma questão que é imprescindível na direção da construção de uma sociedade socialista é a da propriedade dos meios de comunicação e das formas de gestão desta propriedade. É impossível se pensar em socialismo hoje sem democratizar os meios de comunicação.

Outra questão fundamental, que ganhou importância no pós-guerra, é a questão da propriedade intelectual. Hoje, boa parte dos lucros não advém da propriedade dos meios de produção, mas da propriedade privada das patentes, da propriedade privada da gestão do desenvolvimento científico e tecnológico.

Há empresas que têm lucros extraordinários sem possuir uma única máquina, só possuindo uma marca, um logotipo qualquer e subcontratando, se valendo de um processo de terceirização internacional e subcontratando no mundo inteiro.

Fazem isso detendo o controle de uma marca e expropriando os trabalhadores por meio deste expediente.



[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

O planejamento social tem que ser necessariamente democrático (Fernando Haddad). [1]

Muitas vezes, na ânsia de tentar construir uma sociedade libertária, podemos estar fazendo uma confusão entre uma construção republicana dessa nova forma de organização social e a ideia de que o mercado deve permear todas as relações sociais.

Gostaria de lembrar que existem dezenas de formas de planejamento sob o capitalismo. O sistema de crédito é um sistema absolutamente centralizado no Conselho Monetário Nacional, aqui no Brasil.

O sistema tributário é centralizado e completamente opaco, principalmente no nível federal. Na órbita das administrações municipais, estamos conseguindo torná-lo mais transparente, mas no nível federal ninguém tem noção do que paga, para onde vai o dinheiro, nada disso é visível.

Então, é uma falsa polêmica essa questão do plano estatal e do mercado. Caberia tanto ao Estado como ao mercado um planejamento social, porque é este que está faltando e tem que ser necessariamente democrático.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

A única forma de todos terem propriedade é lutar pelo socialismo (Fernando Haddad). [1]

Sem propriedade não há liberdade, acho que estamos todos de acordo. Por isso é que somos socialistas. Porque ninguém é proprietário de nada. A não ser 10% da população, ou menos.

A única forma de todos terem propriedade é lutar pelo socialismo. Isso é clássico no socialismo, desde a sua emergência logo após a Revolução Francesa.

Paul Singer está absolutamente sintonizado com os ideais de construção republicana de uma nova forma de organização social, que visa a generalizar a propriedade por meio da sua socialização, sem que com isso se comprometa nenhuma das conquistas do liberalismo.

Conquistas que, aliás, Marx era o primeiro a apreciar, como a liberdade individual, que só se consumaria com a extinção das classes sociais, com o fim da sociedade dividida em classes.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Socialismo e republicanismo não são incompatíveis (Fernando Haddad). [1]

O que me seduz no PT é que ele tenha uma ala socialista importante, comprometida com os ideais socialistas; uma ala republicana importante, comprometida com os ideais republicanos; e um centro hegemônico social-desenvolvimentista, o que é absolutamente fundamental no caso de um país periférico como o Brasil.

Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, longe de existir uma incompatibilidade entre republicanismo e socialismo, na minha visão eles são compatíveis e não vejo a realização de um sem a realização do outro.

Essa idéia do que eu poderia chamar de socialismo republicano permeia de alguma forma a obra recente de Paul Singer. A tentativa de mostrar aquilo que ele chama de socialismo vindo da base é justamente a idéia de se construir republicanamente uma nova forma de organização econômica e social.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.

O mercado é a lei do mais forte (Arlindo Chinaglia). [1]

No sentido da democratização do poder do Estado, o controle popular e o Orçamento Participativo são armas eficazes. Mas, como peso na economia, me preocupa.

Nunca gostei do termo “socialismo real”, porque prefiro dizer que não era socialismo.

É uma atitude mais coerente com princípios e valores sempre defendidos pelos socialistas.

Nesse sentido, como analisar o processo chinês, que hoje ameaça o Japão e é uma economia planificada, centralizada? Não consigo entender que a centralização seja algo necessariamente ruim.

Exemplo são as megafusões, os grandes conglomerados. Eles são centralizados, têm poder, planejam. Então, não consigo vislumbrar a estratégia que vai nos levar naturalmente ao socialismo.

E não estou defendendo nada daquilo que é burocracia e ineficiência. Aliás, eu rechaço a idéia de que o mercado seja livre. Ao contrário, o mercado é a lei do mais forte, com todos os crimes que levaram à concentração e ao poder dos atuais mais fortes.


[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.