Acho difícil conseguirmos avançar em direção ao socialismo se não construirmos um movimento que recupere alguns conteúdos ideológicos clássicos do movimento socialista.
O reconhecimento de ser um socialista, que luta para o bem de todos, para a construção de uma sociedade solidária, tem de se tornar mais importante e mais desejado do que ter uma renda um pouco maior.
Enfatizando um pouco mais: acho que não basta que nós, os membros desse movimento por construir, sejamos gente que se incomoda com a pobreza dos outros, com a existência de miséria na sociedade.
Acho que é essencial também que sejamos gente que teria vergonha se tivesse uma renda muito acima da média da sociedade, ou se tivesse um padrão de vida muito maior do que o considerado socialmente aceitável.
Isso não significaria eliminarmos as diferenças sociais: isto só será possível, naturalmente, após um longo processo de construção socialista. Mas começaríamos a reduzir as diferenças sociais de modo significativo, e nos sentiríamos felizes precisamente por estarmos sendo consequentes com isso.
Sem a construção de um movimento político-cultural desse tipo, não vejo como os “implantes socialistas” existentes escapariam da tendência a se descaracterizar e a ser engolidos pelo mercado, isto é, pelo capitalismo, sob o peso da pressão dos critérios capitalistas de eficiência e das consequências da inevitável divisão social do trabalho.
[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário