Estou convencido de que deve fazer parte do nosso horizonte a tentativa de descobrir formas de organização social, formas de descentralização econômicas distintas do mercado, pelo menos entendendo o mercado como o que ele realmente é.
E nisto quero discordar da intervenção do senador Suplicy. Não é correto dizer que não podemos ser contra o mercado, porque o mercado é simplesmente uma maneira de as pessoas conversarem.
De forma alguma! É justamente porque sou favorável a que as pessoas realmente conversem umas com as outras, para decidir o que lhes diz respeito, que vejo o mercado de maneira muito negativa.
O mercado é uma maneira de as pessoas se relacionarem de forma impessoal. Se se quiser dizer que a relação que se estabelece por intermédio do mercado é uma forma de conversar, vá lá, mas é preciso deixar claro que é uma forma muitíssimo restrita de conversar.
No mercado, o trabalhador que procura emprego não pode dizer que tem dez filhos, que sua família está passando fome, que precisa disto e daquilo. Só pode dizer qual é sua capacidade de trabalho, que é o que tem para vender.
Se chegarmos em uma situação em que as pessoas que se encontrarem para tratar de questões econômicas realmente conversem, discutam o que precisam, perguntem pela família do outro etc., isto não poderá ser chamado de mercado.
[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.
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