Há uma outra questão que considero muito importante e foi tocada por Paul Singer, embora ele não tenha tido tempo de desenvolvê-la. É o problema da divisão social do trabalho.
Naturalmente, é muito difícil avançar muito radicalmente na superação da divisão social do trabalho, principalmente se pensamos em prazos curtos. Nas nossas experiências de organização econômica hoje é sem dúvida necessário manter formas de divisão do trabalho.
Mas o que significa construir formas de economia solidária mantendo a divisão do trabalho? Significa construir organizações em que há contraposição entre administradores e operários, entre trabalhadores mais qualificados e menos qualificados.
Isso naturalmente conduz à necessidade de manter diferenças de remuneração, ainda que menores do que as que são normais no capitalismo.
Desenvolvem-se diferenças objetivas de interesses. No caso de Mondragón,
por exemplo, é perfeitamente razoável dizer que no seu interior há algum tipo de luta de classes.
Há muitos trabalhadores cooperados que não se sentem identificados com o complexo de cooperativas – que, no entanto, é administrado em bases autogestionárias.
Para muitos trabalhadores cooperados, a única grande diferença que sentem, a única grande vantagem evidente, em relação aos trabalhadores de empresas capitalistas semelhantes, é a maior garantia no emprego. Não é uma pequena questão, mormente nos dias de hoje, mas é pouco para caracterizar avanço em direção ao socialismo.
[1] Paul Singer e João Machado, Série Socialismo em discussão, ECONOMIA SOCIALISTA, EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1a edição: junho de 2000, São Paulo.
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